As taxas de mortalidade e hospitalizações relacionadas ao consumo abusivo de álcool entre mulheres no Brasil estão em ascensão preocupante, em contraste com a queda observada entre os homens. Um recente relatório divulgado pelo Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) revela um aumento de 7,5% nas mortes e 5% nas internações totalmente atribuíveis ao álcool entre mulheres, no período de 2010 a 2021, quando comparadas as taxas por 100 mil habitantes.
Atualmente, as mulheres representam 23,6% do total de óbitos e 29% das hospitalizações por consumo abusivo de álcool no país. Enquanto isso, os homens experimentaram uma redução de 8% nas mortes e 13% nas internações durante o mesmo período. A nível nacional, houve uma diminuição geral de 4,8% nas mortes e 8,8% nas hospitalizações após o pico registrado no primeiro ano da pandemia de Covid-19.
É relevante ressaltar que o problema não está restrito às faixas etárias mais maduras, pois também há um aumento preocupante entre as mulheres mais jovens. Em 2021, crianças e adolescentes de 0 a 17 anos foram responsáveis por 2,4% das mortes e 11,3% das internações. Esses números aumentaram para 7% e 17,8%, respectivamente, na faixa etária dos 18 aos 34 anos, e 19,2% e 26,6% entre 35 e 54 anos.
Os dados coletados pelo Cisa corroboram as preocupações manifestadas por vários estudos nacionais e internacionais sobre o crescimento do consumo abusivo de álcool entre as mulheres nos últimos anos. O presidente do Cisa, o psiquiatra Arthur Guerra, destaca a necessidade urgente de elaborar medidas direcionadas especificamente para o público feminino. Ele acredita que o aumento do consumo abusivo de álcool entre as mulheres pode estar associado a diversos fatores, incluindo as pressões e cobranças diárias que enfrentam em suas vidas, levando muitas a recorrerem ao álcool como uma forma de escape.
As mulheres são mais vulneráveis aos efeitos prejudiciais do álcool devido a diferenças fisiológicas em relação aos homens. O corpo feminino possui menor quantidade de enzimas que metabolizam o álcool no estômago, o que pode resultar em uma maior concentração alcoólica no sangue, mesmo ingerindo a mesma quantidade que um homem. Além disso, o organismo feminino é mais suscetível a problemas hepáticos, apresentando doenças associadas ao álcool mais precocemente do que os homens.
Infelizmente, existe uma carência de políticas públicas voltadas para a prevenção e tratamento de mulheres dependentes do álcool. Essa falta de suporte e a pressão exercida pela indústria de bebidas alcoólicas tornam as mulheres mais vulneráveis ao início precoce do consumo de álcool. Especialistas enfatizam a importância de aumentar a idade mínima para o consumo de álcool, além de envolver as famílias no processo de prevenção.
O relatório do Cisa também destaca as disparidades regionais, com 16 estados brasileiros apresentando taxas de mortalidade acima da média nacional e 11 estados, juntamente com o Distrito Federal, superando a taxa nacional de internações por consumo nocivo de álcool.
Para combater essa tendência preocupante, é essencial que os gestores públicos aprofundem suas análises por meio de estudos locais para entender melhor as questões específicas que possam estar influenciando o consumo nocivo de álcool entre as populações, visando a implementação de medidas mais eficazes e direcionadas.