Polêmica na Orla de Itapuã: Projeto de Recolhimento de Materiais de Trabalho dos Barraqueiros Gera Debates

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A icônica Sereia de Mário Cravo, um marco na orla de Itapuã, representa os pescadores e trabalhadores que dependem da faixa de areia da capital baiana para sustento. Recentemente, em 14 de setembro, a Prefeitura de Salvador anunciou planos para recolher os materiais de trabalho dos barraqueiros que atuam na orla marítima, como parte de um projeto de requalificação das praias da cidade, elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira.

Inicialmente, essa iniciativa deveria ser vista como uma notícia positiva tanto para os frequentadores da praia quanto para os trabalhadores da faixa de areia. Afinal, foram 13 anos de negligência após a remoção das barracas da região. No entanto, a prefeitura agora estuda a implementação das chamadas “guarderias”, espaços subterrâneos semelhantes aos encontrados em lugares como a Praia do Forte, onde os ambulantes poderiam armazenar diariamente seus equipamentos de trabalho. A Secretaria de Ordem Pública (Semop) enfatiza que o projeto ainda está sujeito a estudos de impacto ambiental e requer estruturas essenciais para garantir a segurança das instalações.

Entretanto, a proposta não é bem vista pelo presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento da Bahia (IAB-BA), Daniel Colina. Para ele, a retirada diária dos equipamentos e a criação de espaços para armazená-los à distância da praia parecem medidas improvisadas. Colina argumenta que a requalificação das praias deveria resultar de um planejamento participativo e multidisciplinar, envolvendo a cidade, o governo estadual e federal, e se oferece para contribuir com esse processo.

Por outro lado, a Semop defende sua perspectiva. Um dia antes do protesto dos barraqueiros, o secretário Alexandre Tinôco explicou em uma entrevista à Rádio Metropole que o recolhimento diário dos materiais dos ambulantes visa evitar a “favelização” das praias da capital baiana. Em seguida, a secretaria esclareceu em nota que, de forma emergencial, os materiais seriam retirados da faixa de areia e armazenados em uma casa alugada pela prefeitura, localizada na Praia de Piatã. Segundo a Semop, um caminhão disponibilizado pela prefeitura faria a entrega dos pertences no dia seguinte, permitindo que os ambulantes trabalhassem normalmente. Contudo, os trabalhadores temem que essa logística possa danificar ou até trocar seus materiais.

Além disso, os barraqueiros questionam por que não foram consultados durante o desenvolvimento do projeto. Maurício Batista, representante dos barraqueiros, afirma: “A prefeitura fala hoje das guarderias para ajudar a classe trabalhadora da faixa de areia, mas para que essas guarderias funcionem, primeiro precisamos participar do desenvolvimento do projeto junto à Fundação Mário Leal.”

Este tema tem gerado debates na Câmara Municipal de Salvador. O vereador Augusto Vasconcelos (PCdoB), ouvidor-geral da Casa, enviou um ofício à Semop questionando as medidas. Para ele, é crucial que o projeto leve em consideração os interesses dos ambulantes ao ordenar o uso dos espaços públicos. “Os espaços são públicos, precisamos certamente organizar, mas de forma compatível com os interesses da maioria da cidade”, enfatizou em uma entrevista ao Jornal Metropole.

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