A Faixa de Gaza, uma das áreas mais densamente povoadas do mundo, com cerca de 6.000 habitantes por quilômetro quadrado, enfrenta um cenário de terror, onde quase 40% de sua população é composta por crianças menores de 14 anos. O conflito que se desenrola nessa região há mais de uma década tem causado um impacto devastador na vida das crianças palestinas.
Ao longo de 16 anos, de janeiro de 2008 até setembro do ano passado, mais de 5.300 vidas foram perdidas devido aos confrontos entre palestinos e israelenses em Gaza, de acordo com dados da ONU. Alarmantemente, mais de 1.200 dessas vítimas, representando 23% do total, eram crianças.
No atual conflito entre Tel Aviv e o Hamas, a facção que controla Gaza, a situação se agravou ainda mais. Em menos de uma semana, aproximadamente 1.900 pessoas perderam a vida na região, com 33% desse trágico número, ou seja, 614 vítimas, sendo crianças, conforme relatado pelo Ministério da Saúde palestino na sexta-feira, 13 de outubro.
O porta-voz do Unicef, Ricardo Pires, enfatiza que, invariavelmente, as crianças são as mais afetadas em situações de conflito, testemunhando horrores que nenhuma criança deveria presenciar. Isso deixa marcas profundas que afetarão seu desenvolvimento por décadas.
Gaza não é uma exceção a essa dura realidade. Conflitos armados ao redor do mundo têm um impacto devastador na infância, mas as condições em Gaza se agravam devido à alta proporção de jovens na população e à infraestrutura deficiente da região.
A Faixa de Gaza enfrenta escassez de eletricidade, com apenas metade da demanda atendida, agravada pelo bloqueio terrestre, aéreo e marítimo imposto por Tel Aviv, o que priva hospitais e unidades de tratamento intensivo de eletricidade vital.
Segundo o Unicef, desde 2008, aproximadamente 816.000 crianças foram identificadas como necessitando de atendimento para saúde mental devido a fatores relacionados ao conflito regional.
A situação nos hospitais de Gaza é descrita como caótica e catastrófica. O porta-voz do Unicef enfatiza a necessidade urgente de pôr fim a essa tragédia e destaca a importância de reunir as crianças israelenses que foram mantidas reféns pelo Hamas com suas famílias, respeitando o direito internacional.
Do lado israelense, o prolongado conflito com os palestinos também cobra um preço alto das crianças, embora os números precisos não tenham sido divulgados. No entanto, o levantamento da ONU revela que, de 2008 até o início deste conflito, 25 crianças israelenses perderam a vida devido às hostilidades.
Além disso, o governo israelense afirma que crianças foram vítimas dos ataques do Hamas nas primeiras comunidades agrícolas atacadas desde o último sábado, com imagens chocantes de bebês degolados e carbonizados.
A Faixa de Gaza, historicamente um importante porto comercial e marítimo, foi densamente povoada desde a formação do Estado de Israel em 1948, quando milhares de aldeões árabes foram expulsos de suas terras e se refugiaram na região costeira. Além disso, a presença de campos de refugiados palestinos aumentou a densidade populacional, somando cerca de 1,5 milhão de pessoas.
A região, que abriga 2,2 milhões de pessoas, apresenta uma taxa de fecundidade elevada, com 3,3 nascidos vivos por mulher, em comparação com a média global de 2,3.
A tragédia que se desenrola em Gaza é um lembrete angustiante de que as crianças continuam a pagar o preço mais alto em conflitos armados em todo o mundo. O Unicef chama a atenção para a situação semelhante em outros lugares, como a Ucrânia, onde mais de 1.741 crianças perderam a vida devido à guerra, enquanto 4,1 milhões de crianças precisam de ajuda humanitária dentro do país.
O mundo enfrenta desafios monumentais em proteger a infância em situações de conflito, e é essencial que a compaixão e o direito internacional prevaleçam para garantir um futuro mais seguro e pacífico para as crianças de Gaza e de todo o mundo.