Poupar para alunos do ensino médio é uma ideia positiva, mas não assegura o fim da evasão escolar, conforme apontam especialistas. A evasão escolar é um problema antigo no Brasil, com cerca de 500 mil jovens brasileiros acima de 16 anos deixando de concluir os estudos anualmente, segundo o estudo “Combate à Evasão no Ensino Médio: desafios e oportunidades” de abril de 2023.
Devido às dificuldades financeiras, que são frequentemente a causa principal da evasão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o projeto de lei que estabelece uma bolsa permanência para alunos de baixa renda no ensino médio, denominada de Pé de Meia. No entanto, especialistas consultados pelo Bahia Notícias ressaltam que, embora seja uma boa iniciativa, o programa não garante a solução do problema da evasão escolar no Brasil.
Igor Lucena, economista e presidente do Corecon-CE, destaca que o Pé de Meia não terá grandes impactos negativos nos cofres da União, mas questiona sua capacidade real de diminuir a desistência dos estudantes. Ele enfatiza que a poupança para os estudantes pode melhorar o estímulo para continuarem os estudos, mas não resolve a questão da qualidade da educação, outro fator crucial.
Herbert Gomes, doutor em Educação, aponta que apenas 60,3% dos estudantes concluem o ensino médio até os 24 anos no Brasil, com disparidades entre os mais pobres (46%) e os mais ricos (94%). O Pé de Meia é visto como uma ação positiva, mas Gomes ressalta que é apenas a “ponta do iceberg” e não aborda todas as questões por trás da evasão escolar, como a necessidade de estrutura adequada, valorização dos professores e melhorias na infraestrutura.
José Raimundo Santos, doutor em Ciências Sociais, destaca que a evasão escolar não é impulsionada apenas por questões econômicas, mas também pelo desencanto com o ensino, questões logísticas e a influência da “uberização”. Ele aponta a desigualdade na sociedade brasileira como um fator significativo, evidenciado pelo alto número de jovens entre 18 e 24 anos que não estudam nem trabalham, colocando o Brasil como o segundo país com essa realidade, atrás apenas da África do Sul, segundo um relatório da OCDE.