Hercílio Carvalho se emociona quando lembra do passado marcado por poeira e escassez. Hoje, em sua pequena propriedade rural nos arredores de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, brotam não apenas alimentos, mas também dignidade. Ele é um dos milhares de sertanejos beneficiados pela chegada das águas do Rio São Francisco, que, por meio do Programa de Integração do São Francisco (PISF), mudou o curso da vida de quem sempre precisou conviver com a seca. “A água é como um parente que chegou de longe e resolveu ficar. Hoje, o que a gente planta nasce. Antes, o verde vinha só com reza e sorte”, resume o pernambucano.
Durante a visita do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e da Presidência da República ao município, no marco da agenda Caminho das Águas, histórias de esperança como a do agricultor ganhou mais um capítulo. No encontro, foi assinada a ordem de serviço no valor de R$ 491,3 milhões para duplicar a capacidade de bombeamento de água em todo o Eixo Norte do PISF, nas estações de bombeamento intermunicipais EBI1, em Cabrobó (PE), EBI2, em Terra Nova (PE), e EBI3, em Salgueiro (PE). A obra ampliará a capacidade de 24,75 m³/s para 49 m³/s, beneficiando 237 municípios e cerca de 8,1 milhões de pessoas nos estados de PE, CE, PB e RN.
Quem também comemorou a notícia foi a aposentada e agricultora Marina Maria da Conceição Barbosa. Hoje, ela fala com alívio da mudança que viu acontecer, e compartilha sua alegria em saber que foi só o começo. “Antes era muito sofrimento. A gente ia pegar água no jumento, em cacimbas longe, e quando não dava, tomava água salgada mesmo”, relembra. “Agora é uma belezura toda. Pense”, continuou.
Para Valdemar José de Vasconcelos, a transformação tem ainda um significado especial. Agricultor, ele também participou diretamente das obras da transposição, atuando nas etapas de detonação, canalização e terraplenagem. “Trabalhei do começo ao fim. Hoje é um orgulho ver essa água passando e saber que fiz parte disso”, conta com os olhos brilhando. Antes da transposição, Valdemar só conseguia plantar durante os meses de chuva. “De junho em diante, era tudo seco. Se tivesse poço, era água salgada. Agora, a gente produz o ano inteiro”.
Além do abastecimento
Durante a assinatura da ordem de serviço para duplicação da bombeamento de água, o presidente Lula reafirmou seu compromisso com a conclusão das obras de transposição do Rio São Francisco e destacou a importância da união entre os governos federal, estadual e municipal para garantir que a água chegue às casas das pessoas. “Eu estou resolvido a fazer essa obra porque acredito que ela é a redenção do povo”, afirmou.
Lula comparou o potencial produtivo das regiões que receberão a água ao exemplo de Petrolina e Juazeiro, que se destacam na produção de alimentos graças ao acesso ao rio. “A mesma alegria que eu vi quando a primeira água entrou no canal lá em Cabrobó, é a que eu vou ter no dia em que a gente inaugurar o fim da transposição”, declarou. Para ele, o verdadeiro fim da obra não é a construção em si, mas garantir que a água chegue tratada e de forma definitiva às famílias nordestinas.
O ministro Waldez Góes ressaltou a importância dessa duplicação no Eixo Norte do PISF. “Com isso, vai além da questão do abastecimento humano. A gente já começa a discutir projetos de desenvolvimento, agricultura irrigada, turismo e industrialização”, destacou. Góes também mencionou a obra do ramal do Apodi, com 115 km de extensão e 70% de execução, cuja primeira etapa será inaugurada ainda este ano. “Essas duas ações têm participação direta com a presença do presidente Lula”, concluiu.
Por fim, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, agradeceu ao presidente Lula pelos investimentos com foco nas regiões mais vulneráveis. “Quero agradecer mais uma vez pelo senhor olhar por Pernambuco, renovando seu compromisso com o nosso povo e com o povo mais pobre do sertão”, disse. Ela também exaltou a atuação do ministro Waldez Góes. “Agradeço muitíssimo a generosidade e a coragem do ministro, que em cinco dias esteve duas vezes em Pernambuco, fiscalizando obras, entregando mais água e garantindo mais recursos para o nosso estado”, observou a governadora.
O PISF
A maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil e da América Latina foi idealizada e iniciada no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a meta de beneficiar 12 milhões de pessoas em 390 municípios e 294 comunidades rurais. O projeto foi oficialmente lançado em junho de 2007, após décadas de debates sobre a necessidade de levar as águas do “Velho Chico” para regiões historicamente castigadas pela escassez de água. Canais com água captada do Rio São Francisco correm por 477 quilômetros sertão adentro e já irrigam lavouras, abastecem casas, açudes e reservatórios em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Além desses grandes canais do PISF, outros projetos de segurança hídrica — como adutoras, ramais e reservatórios — estão espalhados pelos sertões da Bahia, Alagoas, Piauí e Maranhão, formando o que o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) chama de Caminho das Águas. Somando estudos e projetos em andamento, são mais de 70 ações, todas elas inscritas no Novo PAC.