Em sete anos, a Bahia testemunhou um aumento de 300% no número de mortes decorrentes de ações policiais, conforme aponta pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança.
No ano de 2022, a Bahia liderou o ranking de estados com o maior registro de mortes em operações policiais, revela o estudo “Pele Alvo: A cor da violência policial”. Os dados comparativos incluem sete estados analisados no mesmo período.
O G1 procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) para obter um posicionamento e está aguardando resposta.
De acordo com a pesquisa, a cada 24 horas, quatro pessoas perdem a vida em ações da força policial na Bahia. Além da Bahia, a pesquisa abrangeu os estados de Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
Os resultados indicam um aumento de 300% nas mortes em ações policiais em relação a 2015, sendo que a maioria das vítimas é de origem negra. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2022, os negros representam 80,80% da população na Bahia. Veja os números do Observatório da Segurança:
- 2015: 354 pessoas mortas pela polícia
- 2022: 1.465 pessoas mortas pela polícia
- 2022: 94,76% eram pessoas negras e 74,21% tinham entre 18 e 29 anos
Larissa Neves, pesquisadora do Observatório da Bahia, destaca que o estado justifica as operações policiais principalmente no combate ao tráfico de drogas, e observa que tanto a população majoritariamente negra quanto os agentes de segurança negros recorrem à “força máxima” na segurança pública da capital baiana.
Marcos Rezende, historiador e especialista em segurança pública, doutorando em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília (UNB), também aborda o cenário, atribuindo o alto número de mortes de pessoas negras na Bahia a um histórico incentivo a uma política de segurança pública armamentista e focada no combate.
Em entrevista ao G1, Marcos argumenta que o combate à violência pode ser resolvido por meio de investimentos na promoção de direitos, educação, saúde, garantia de emprego e renda, além de apoio à cultura e ao esporte.
Sobre a predominância de jovens negros entre 18 e 29 anos nas estatísticas de mortes, o especialista aponta a falta de oportunidades para mudar a realidade de suas vidas, observando que muitos veem nas organizações criminosas o único caminho de emancipação, mesmo que isso ocorra por meio da coerção. Marcos Rezende conclui afirmando que o Estado falha em fornecer respostas concretas para essa questão.